quarta-feira, 30 de março de 2016

Não aposte todas as fichas

Por Samuel Marques. Estou tentando entender porque uma pessoa organizada, que tem poupança há anos, de repente usa todo o seu dinheiro num único negócio e ainda fica devendo.

Sabe aquela pessoa financeiramente organizada e que sempre mantém um dinheiro aplicado no banco? Pois bem, minha dúvida é sobre o motivo que leva estas pessoas consideradas “certinhas” em termos financeiros, a usarem todo o dinheiro disponível quando decidem fazer um negócio.

Veja estes exemplos:
a) um homem tinha 700 mil reais. Decidiu comprar uma casa anunciada por 800 mil e pechinchou até o vendedor aceitar 750. Usou toda sua reserva e ainda ficou devendo;

b) uma mulher tinha 250 mil e decidiu abrir uma franquia. No ramo que ela pretendia atuar existem ofertas entre 15 e 300 mil. Depois de uma pesquisa, ela escolheu uma franquia que custa 250 mil, exatamente o valor que possuía;

c) um homem queria trocar seu carro de 30 mil e para isto contava com mais 20 mil guardados no banco. Visitou algumas concessionárias e comprou um carro de 80 mil. Entregou seu carro usado, toda a poupança e financiou a diferença.

Alguém pode me explicar o motivo que levou estas pessoas a adquirir um bem com valor acima do dinheiro disponível? Por que elas não optaram por um negócio que envolvesse apenas metade do seu dinheiro?

Estes exemplos são reais e todos tiveram problemas: o primeiro não reservou dinheiro para a escritura, a mulher que comprou a franquia precisou recorrer a uma linha de capital de giro logo no segundo mês de operação da sua loja e aquele que comprou o carro ficou com o orçamento apertado quando começou a pagar as prestações.

Não se trata de um erro matemático. Todos são capazes de fazer a conta e verificar que o negócio é maior do que orçamento. Mas alguma coisa os levou a decidir pelo caminho do stress e das dificuldades financeiras.

Cada um deles demonstrava controle emocional sobre o dinheiro no dia a dia, tinham orçamento familiar equilibrado e dinheiro guardado. Mas na hora de fazer um negócio, contrariaram toda a lógica que lhes permitiu guardar dinheiro e usaram mais do que o saldo permitia.

Perguntei o motivo e obtive as seguintes respostas:
a) Eu me empolguei. Queria fazer o melhor negócio possível com aquele dinheiro;
b) Imaginei que se eu usasse todo o meu dinheiro, estaria realmente comprometida. Como se fosse uma prova de que dei tudo de mim, fiz o meu melhor pra este negócio dar certo;
c) Acho que caí na lábia do vendedor. O carro é realmente muito bom, mas eu não devia ter comprado.

Tivemos longas conversas durante o processo de coaching, refletindo sobre os motivos que levaram estas pessoas a quebrar a mais básica de todas as regras financeiras: gastar menos do que ganha.

Ainda que os motivos ainda não estejam bem claros para mim (talvez Freud explique) já elaborei uma nova recomendação a todos os disciplinados e poupadores:

Não use todo o recurso de uma só vez.

Ou seja, evite apostar todas as suas fichas num único lance do jogo. Para uma pessoa que sempre manteve investimentos, pode ser bem angustiante ficar sem dinheiro e com o orçamento apertado, depois de uma nova aquisição.

O melhor é reservar parte do dinheiro com você para ter folga financeira e quitar sem stress as despesas acessórias do negócio: imposto, escritura, comissões, reforma, capital de giro, emplacamento e outros que sempre aparecem.

Isto faz sentido pra você?
Espero que sim.

Grande abraço,

Publicado originalmente no Portal Bolso e Futuro

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